domingo, 13 de dezembro de 2009

O acidente que mudou a minha vida - Parte 1

Dia quatorze de novembro, uma data que jamais esquecerei em toda minha vida. Nesse dia, acordei bem cedo, olhei o céu e o dia estava simplesmente lindo! Como um dia como aquele poderia terminar de uma maneira tão trágica.

Segundo meu pai, antes do acidente, ele teve muitos pesadelos. Ele também disse que chegou a sonhar com que relatarei agora. Não sei se foi mau presságio ou uma fatalidade, mas aconteceu...

Exatamente às cinco horas da tarde eu e meus três irmãos assistíamos o seriado Sítio do Pica Pau Amarelo, não perdíamos um capítulo sequer. No entanto, naquele dia fugimos da nossa rotina e não ficamos na sala de casa, como era de costume, para assistir o seriado. Até hoje não entendemos o porquê de não ficarmos na sala. Por que exatamente naquele dia não ficamos ali, quietinhos, sentadinhos, como sempre fazíamos? Existem certos acontecimentos em nossas vidas que fogem da nossa compreensão e do nosso entendimento. E assim eu e meus irmãos fomos para a frente de nossa casa para brincar. Eu tinha onze anos e meus irmãos respectivamente: dez, oito e três anos de idade.

Fiquei ali, embaixo da marquise de casa, pulando corda com meu irmão do meio. Enquanto isso, meu outros irmãos brincavam quase perto da calçada. No momento em que pulávamos corda, eu e meu irmão brigamos, ele parou de brincar e se juntou aos meus outros irmãos. Incrível, só foi o tempo dele sair, para que uma parte da marquise desabasse sobre mim. Foi tudo tão rápido, de repente eu me vi coberta por grandes pedras de concreto e ferro, estava presa no meio de tudo aquilo. Não desmaiei, estava consciente, mas não entendia como tudo aquilo foi parar em cima de mim. Só conseguia ver uma vizinha gritando e desmaiando. Pensava comigo mesma, “Me tirem daqui, por favor!”, pois naquele momento não conseguia falar. Não sentia nenhuma dor, era como se todo o meu corpo estivesse anestesiado, acredito que se sentisse dor morreria naquele momento, pois seria insuportável. Minha mãe era a única pessoa em quem eu podia sentir força e coragem. Meu pai tinha acabado de voltar do trabalho e quando viu tudo aquilo se trancou no banheiro, foi preciso a ajuda dos bombeiros para retirá-lo de lá. Em relação aos meus irmãos, o mais velho só chorava, o do meio fazia um buraco na areia, pois dizia que queria se enterrar vivo e o mais novo gaguejava. Não foi só eu quem sofreu o acidente, mas toda minha família.

Naquele momento as pessoas não sabiam o que fazer, então minha mãe, com toda coragem que possuía e possui, pediu aos vizinhos para que retirassem os escombros que estavam em cima de mim. Após a retirada dos mesmos ela me enrolou num lençol, enquanto ela me enrolava no lençol, via o estado em que tinha ficado meu braço e minha perna direita, meu braço estava mais comprometido. Perdi muito sangue. Minha mãe me carregou até o táxi solicitado por um vizinho. Coitado do taxista, deve ter ficado chocado em ver uma cena como aquela: eu segurando o meu braço direito todo dilacerado e minha mãe segurando minha perna também dilacerada, o sangue tomando conta do banco traseiro e eu gritando para minha mãe e para ele que não queria morrer. Dizia constantemente: Moço, corre mais rápido! Eu não quero morrer! Tenho uma vida pela frente! Ele e minha mãe me acalmavam e diziam que tudo terminaria bem.

Quando dei entrada no hospital, sentia que minhas forças estavam me abandonando. Sentia que tudo estava terminando para mim. Nesse momento, tive duas sensações estranhas, é muito difícil relatar sobre isso, tentarei explicar, mas acredito que somente quem passa por uma situação como essa sabe do que estou falando. A primeira sensação era muito boa, de entrega, de paz, me forçava a ir embora, sentia que se eu fizesse aquilo todo meu sofrimento acabaria. A segunda sensação era bem diferente da primeira, era preciso lutar incansavelmente, reagir para não ir embora, me esforçar ao máximo. No meu íntimo, queria me entregar aquela sensação agradável, mas ao mesmo tempo não queria ir embora, precisava reagir, precisava ficar, tinha muitas coisas ainda para fazer, tinha uma vida para viver... e foi nesse exato momento que eu abri os olhos e consegui dizer ao enfermeiro, que tinha acabado de me colocar na maca, que não conseguia respirar. Imediatamente ele correu e me trouxe o balão de oxigênio.

Fui levada ao centro cirúrgico e permaneci lá por quatro horas. Antes da cirurgia, o médico disse a minha mãe que a minha chance de sobrevivência era nenhuma, devido a gravidade dos ferimentos. Havia perdido muito sangue e ele acreditava que eu não resistiria a cirurgia. Contudo, minha mãe continuou confiante, acreditando em Deus e na minha recuperação. Ela disse dessa maneira ao médico: "Antes da minha filha estar nas suas mãos, ela está nas mãos de Deus".

Após quatro horas de cirurgia, o médico veio comunicar a minha mãe que eu tinha conseguido sobreviver e que foi um milagre.

Sai da sala de cirurgia e fui encaminhada para a U.T.I.(Unidade de Terapia Intensiva), pois existia ainda a possibilidade de risco de morte. No segundo dia de U.T.I., consegui abrir pela primeira vez os olhos, após a cirurgia. Percebi que havia sobrevivido, percebi que ainda tinha uma vida para viver e que dali para frente teria que aproveitá-la muito bem. Depois de uma semana na U.T.I., fui encaminhada para o quarto do hospital, onde permaneceria por três meses. Do quarto podia ver o céu, e por incrível que pareça, o dia estava lindo...

Quero aproveitar este espaço e agradecer a todos que me ajudaram nessa difícil batalha: primeiro a Deus, se não fosse por ele não estaria aqui contando a história, as pessoas que me doaram sangue, aos vizinhos, ao taxista, aos enfermeiros, ao médico e a minha família, principalmente aquela que por nenhum segundo duvidou da minha recuperação e que esteve e está sempre ao meu lado, minha querida mãe.

Texto escrito por Vera (Deficiente Ciente)

Um comentário:

  1. Prof. Augusto,

    Fiquei muito feliz com a publicação do texto do acidente que sofri, em seu Blog Caminhos da Fé. É uma honra, professor!

    Gostaria de dizer aos seus queridos leitores que em momento algum duvidei da existência de Deus. Sofri um terrível acidente, mas senti o tempo todo a presença Dele. Deus jamais me abandonou, pelo contrário pude senti-lo mais de perto. E como Deus é perfeito, ele colocou o meu anjo, que é minha mãe, no meu caminho. Ela me passou e ainda passa muita coragem, força e determinação. Deus sabia o que estava fazendo naquele dia e de uns tempos para cá, Ele tem me mostrado o porquê de todo aquele sofrimento. Não sei o que seria de mim sem Ele...

    Vejam bem: se João Batista morreu por um capricho, se Paulo de Tarso morreu daquela maneira tão trágica, se Jesus sofreu e morreu daquela maneira cruel e teve uma ressurreição discreta, eu, uma pobre mortal, não poderia passar pelo que passei?

    Deus não nos criou para ficarmos lamentando e chorando por qualquer coisa, pelo contrário, Ele nos deu uma Vida para ser muito bem vivida. Para mim, não há nada melhor do que isso.

    Como bem disse, Rogério Brandão, no texto abaixo:”É o viver simples e o simples viver." "Eu vivo. Enquanto vivo estou feliz”.

    Obrigada pelo carinho Prof. Augusto! Gostei muito do blog e estarei sempre por aqui!

    Um feliz Natal a todos!
    Vera

    ResponderExcluir